“Querido Fígado Cansado”
Querido Fígado,
Escrevo-te com a reverência que se dedica aos trabalhadores invisíveis, aos que cuidam de tudo sem pedir aplausos.
Sei que estás cansado. Senti tua exaustão sem que dissesses uma só palavra.
Vejo teu esforço em filtrar mágoas, quimioterapias, sustos e memórias.
Tu, guardião da doçura e da raiva, alquimista dos venenos e das festas.
Quantas vezes te feriram sem saber, e mesmo assim seguiste — firme, resiliente, silencioso.
Hoje, o corpo inteiro soube do teu cansaço.
Sinalizaste com enzimas discretamente elevadas, como quem diz:
“Estou aqui, mas estou lutando além do limite.”
E eu te ouvi.
Decidi preparar sopas brandas para ti, chás que falam baixo, horários gentis.
Pedi à glicose que não te sobrecarregasse, e à tristeza que se deitasse cedo.
Reduzi os pesos, aumentei os sonhos.
E estou aqui — contigo.
Não quero curar-te com pressa.
Quero sentar-me contigo, mãos dadas sobre o ventre, e dizer:
“Você pode descansar. Eu assumo daqui com ternura.”
O corpo inteiro sente tua importância.
O coração te envia batimentos suaves.
O estômago te oferece digestões calmas.
E a alma… a alma quer recomeçar contigo, mais leve.
Querido fígado, hoje não precisas transformar tudo.
Basta respirar comigo.
Com afeto e escuta,
Anita Harmon