Carta 12 — O Grito
Carta 12 — O Grito
Do Caderno de Anita Harmon
Há dias em que não cabe mais.
Nem no corpo. Nem no quarto. Nem na pele que silencia.
E é nesses dias que eu grito.
Não um grito para os outros entenderem —
mas um grito para não morrer sufocada de mim.
Grito o que me negaram,
o que precisei engolir sorrindo,
o que me doeu em silêncio enquanto o mundo girava.
Grito porque sou feita de camadas
e já perdi o nome de tantas.
Sou flor que grita.
Semente que berra.
Mulher que explode em versos porque já não cabe em frases feitas.
Grito porque não quero desaparecer em sussurros.
Grito pra lembrar que estou viva.
Mesmo ferida, mesmo cansada, mesmo tremendo.
E se ninguém escutar —
que ao menos a minha alma me ouça.
E saiba:
Ela não está sozinha.
Com amor e força,
Anita Harmon