No Ralo
Chorei,
chorei muito no banho.
Assisti meus cabelos indo embora,
um a um, fios da minha história
escorrendo com a água quente.
Caiu metade.
E eu fiquei metade.
Assisti a fragilidade do meu corpo,
como se fosse a primeira vez que o via
sem defesas, sem máscaras,
sem o brilho que antes me escapava sem esforço.
Perdi o vigor, a beleza, a vida —
porque eu era cheia de vida.
E agora?
Agora sou cheia de coragem.
Mesmo sem querer.
Cheia de uma força que só vem
quando tudo nos é tirado.
Talvez nunca tenha sido sobre os cabelos,
mas sobre o que continua depois que eles se vão.
Talvez eu esteja nascendo de novo —
não melhor, não pior —
mas mais verdadeira.
No chão do banheiro,
no fundo do ralo,
ficou parte de mim.
Mas aqui, entre o peito e o mundo,
ainda pulsa o que ninguém pode levar:
a mulher que sente tudo,
e ainda assim, escolhe viver.
🌸Sônia 05/06/2025