Quando o Corpo Grita e a Alma Escuta
Um ensaio sob a luz de Jung e a sombra da doença
Há momentos na vida em que o corpo deixa de sussurrar — ele grita. Grita por dentro da pele, dos ossos, do sangue. E quando esse grito se chama câncer, o mundo desacelera, os sentidos se aguçam, e algo em nós desperta.
Carl Jung nos ensinou que corpo e mente são faces do mesmo espelho. Que a doença não é apenas um colapso físico, mas também uma linguagem da alma. Não uma punição, mas uma mensagem. Um símbolo. Um pedido.
O câncer não chega pedindo licença — ele invade. Mas às vezes, paradoxalmente, é essa invasão que nos obriga a regressar ao território sagrado que esquecemos: nós mesmos.
Ele nos obriga a sentir o tempo de outro jeito. O relógio deixa de marcar as horas para marcar a intensidade de cada respiração. E nesse campo de batalha, onde a medicina luta com toda sua razão, a alma nos convida a caminhar com fé — e não com medo.
Porque o medo adoece mais do que a própria doença.
E a alma, quando escutada, encontra caminhos que a ciência não nomeia, mas que o espírito reconhece.
Jung diria que há um Self em nós — algo maior que o ego — que deseja se realizar, tornar-se inteiro. E às vezes, a jornada da cura não está apenas em remover o tumor, mas em integrar a dor, em aceitar o limite, em reconhecer a sombra. Em permitir que a fragilidade nos aproxime daquilo que realmente importa.
O câncer pode ser um mensageiro sombrio, mas também pode abrir portas. Ele pode nos lembrar que viver não é apenas existir — é estar presente, olhar com verdade, tocar com afeto, respirar com sentido.
Talvez, no fundo, o corpo só deseje ser ouvido. E a alma, nesse processo, deseja ser vista.
A cura, então, talvez seja isso:
quando o corpo grita e a alma escuta — e respondemos com inteireza.
Sônia 🌸
07/06/2025