Crônica sobre crise, consumo e outras sumidas.
Sexta-feira. Não é dia 13, mas o pregão deu um susto no mundo todo. O Japão fechou em baixa — quase chegou à casa dos dez negativos, o índice mais baixo dos últimos vinte anos. A recessão atinge a Ásia de forma violenta. Nosso dinheiro desapareceu.
E não é só o dinheiro que anda sumindo, não. Eu não consigo mais consumir bananas. Você deve estar se perguntando: por que colocar banana no meio dessa conversa?
Eu introduzi a banana aqui porque fizeram um golpe de marketing surpreendente na televisão japonesa. Reuniram celebridades, pessoas lindas. Disseram que fazem a tal “dieta da banana”: comem duas por dia. Resultado? Os supermercados lotam suas prateleiras, mas até as dez da manhã o povo já comprou tudo — não sobra uma sequer.
O japonês é sempre muito econômico. Em tempos de crise, ninguém gasta. O comércio está correndo riscos. A indústria automobilística lança, em outubro, novos modelos. O povo, com medo dos juros altos, não compra. A construção civil oferece 20% de desconto em qualquer imóvel. Mesmo assim, o japonês hesita. E pensar que 20% é muita grana…
O que está em alta? O consumo de produtos importados, a vontade de vestir-se melhor — e claro, a bendita banana, que realmente está com preço de banana. Isso está fazendo da República das Filipinas um exportador em ascensão.
Um dólar está custando 97 ienes. Nunca os produtos importados foram tão baratos. Nunca paguei tão pouco por alimentos e vestuário neste país — mesmo com meu dinheiro valendo menos.
Então, se não estou enganada, a crise está apenas para os ricos. Os pobres comem banana e economizam seu dindin em plena recessão.
É isso mesmo: economia em plena crise mundial. Cada centavo do meu iene vale dois reais. O câmbio favorece o trabalhador brasileiro que veio ao Japão com um objetivo: acumular para investir no Brasil. A hora é agora.
O povo americano pagou um preço alto para ver seu país despencar direto no colo da recessão. Enquanto isso, os milionários de Wall Street continuam comendo lagostas e caviar, comprando carrões maravilhosos e dormindo em lençóis de linho egípcio — tranquilos como anjos. Afinal, suas dívidas foram liquidadas. O povo pagou a conta.
Bush ainda não descobriu o sucesso da banana. Quem sabe, se ele comer duas por dia, não as transforme em ouro? Pelo menos aparecerá na televisão com uma cara mais amistosa e bem-humorada.
Comam banana. Sorriam em tempo de crise. Banana é saúde!
A propaganda é a alma do negócio. E o povo continua o mesmo, no mundo todo: fácil de manipular. Por isso paga juros altos, perde o emprego, come o pão que o diabo amassou — e continua votando em analfabetos que usam a política como trampolim para mudar de vida.
Assim também é o japonês: persistentemente obediente, come banana. E olha que a maçã, o mamão, a manga, o melão… estão tão baratos quanto a banana.
E a vida segue…
Cadê a banana?
Cadê o dinheiro?
Bush comeu.
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Crônica de Sônia
Kan’onjicho, Mie, Japão — 2008