Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Missing You

Para José Robles Ortega
Um grande homem,
Meu pai, com todas as honras
.

 

Querido Pai,

 

Não sou digna de perquirir os mistérios da vida. Apenas te vejo — e, quando isso acontece, já não sei se sei ouvir, cheirar, tocar. Amplifico-me para além de mim, e tua voz me incandesce com uma luz outra — que já não é fria, pois tem a tinta dos verões.

 

Eu tinha icebergs flutuando nos olhos. Há muito, a umidade fria do longo inverno me acabrunhara as juntas, compactara os ossos, ressecara as peles.

 

Adentro teu quarto. A claridade tosca — metade janela, metade sensação — sou eu, escuroclara. E és tu, que foste um dia semente-luz, agora um breu roto.

 

Blasfemo contra as incertezas, contra meus sentires, contra a lágrima que se faz grilhão. Mas não há loucura nesse meu ato de desdobrar-me longe — porque há de ser assim, e de nenhum outro modo, esse nosso reencontro.

 

“Então vamos”, disseste.

E recuperamos o mundo na plenitude da vida.

 

Percebo tua fragilidade ao sair às ruas, ao tocar o dia, ao ouvir — de novo — a alegria da vida quando ela se instala. E sabes? Ela é súbita. Leve. Como andorinha flutuando no ar.

 

Perguntas-me o que nunca aprendi a não perguntar.

Minha resposta é uma risada aberta — já com medo da queda.

 

Porque perdoar não é fácil…

Mas eu preciso.

Preciso lhe pedir perdão.

Para que eu renasça.

Para que a vida rebrote nos meus parques, nos meus interiores, nas minhas músicas, na poesia.

 

Para que tudo — o que passou, o que virá, o bem, o mal, e a grandiosidade de tudo o que há — diga enfim:

 

Estamos quites.

 

É preciso um beijo primaveril.

Foi preciso a poesia brotar para lhe dizer:

 

PAI, EU TE AMO.

 

Com todo o meu coração,

Sua filha, Sônia.


 

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 18/10/2011
Alterado em 02/05/2025
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