Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Pedrinho gosta muito de ser gato e, sempre que vira gato, o seu nome é Arvorezinha.

 

Ontem à noite, pediu-me para contar-lhe uma história antes de dormir. Queria que seu gatinho se transformasse em árvore. Como Pedro exige criatividade, é preciso imediatismo, num estalar de dedos, porque a impaciência transborda, e o gato Pedro chora. Então, a árvore mágica aparece.

 

— Gatinho, meu filho, nem sei porque lhe dei esse nome de Arvorezinha. Acho que foi porque você nasceu temporão e tinha aquele tom esverdeado na pele, ou seria porque seu cabelo é farto e sempre tenho a impressão de que tem um brócolis no alto da cabeça?

 

Pedrinho adora essas brincadeiras de ser alface, herói, flor, cadeira, porque para ele tudo tem vida.

 

A conversa acontecia embaixo do encantador Momiji, que exibia sua exuberante cor, nem vermelha nem laranja, demonstrando suas urgências: estar vermelhovinho na entrada do inverno.

 

Arvorezinha, o gatinho, disse para a mamãe gato:

 

— Quando eu crescer, quero ser uma árvore.

 

A mamãe gato arregalou um azulado olhar e disse ao filho:

 

— Árvore? Filho, as árvores são somente isso, ficam plantadas a vida toda no mesmo lugar. Não conhecem o mundo, não têm vida. Não sabem pular, não sabem brincar, não podem correr atrás de um novelo, caçar um ratinho, lamber suas folhas… Elas não têm graça, são tão apáticas.

 

O gatinho olhou para a mãe fazendo beicinho, não entendendo a reprovação dela. E, antes que a resposta lhe chegasse ao pensamento, o Senhor Momiji se manifestou:

 

— Desculpe-me, Dona Gata, se lhe interrompo e se meto minhas folhas nessa conversa, mas…

 

— Ora, dona árvore, a senhora fala?

 

— Claro que sim e falo muitas línguas: dos pássaros, dos insetos, dos gatos, dos cachorros, da chuva, da lua, do sol e do vento, e até mesmo dos humanos. Ao contrário do que a senhora pensa, eu conheço o mundo e seus sentimentos. Concordo que não saio do lugar, mas através do vento posso estar onde quiser. Minhas folhas visitam os lares, as ruas, as esquinas e até alguns livros, quando alguém resolve guardar minhas folhas dentro deles.

 

Uma vez, li: “Por seus frutos os conhecereis” e “As pessoas tristes acham que o vento geme; as alegres, que ele canta.”

 

Sabe, Dona Gata, o mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como encaramos a vida faz toda a diferença. Guardei bem essas palavras.

 

Eu nasci árvore. Nos meus galhos, os pássaros cantam e fazem seus ninhos. Os gatos praticam o jump nos meus troncos e galhos… Que esporte radical, heim, Arvorezinha?

 

“Por seus frutos os conhecereis.” Essa frase se faz necessária, talvez agora, nesse momento, onde Arvorezinha quer ser árvore e sua mãe o quer como gato.

 

Dona Gata, preste atenção, e você também, Arvorezinha, pois sou árvore e você é gato, e não temos diferenças para ELE, porque não nos olha: nem pelo tamanho, nem pela configuração, nem pelas ramagens, nem pela imponência da copa, nem pelos rebentos verdes, nem pelas pontas ressequidas, nem pelo aspecto brilhante, nem pela apresentação desagradável, nem pela antiguidade do tronco, nem pela fragilidade das folhas, nem pela casca rústica ou delicada, nem pelas flores perfumadas ou inodoras, nem pelo aroma atraente, nem pelas emanações repulsivas.

 

Árvore alguma será conhecida ou amada pelas aparências exteriores, mas sim pelos frutos, pela utilidade, pela produção.

 

Assim também é na vida de todos os seres que habitam o universo em plena jornada… Pelas nossas ações seremos conhecidos.

 

Então, Dona Gata, não importa se Arvorezinha é gato ou árvore, o importante é ele estar produzindo para o bem coletivo.

 

Mamãe Gata pensou um pouco e disse:

 

— Sr. Momiji, desculpe-me se minha atitude foi radical. Sou ainda inexperiente diante da vida. Sendo mãe zelosa, desejo o melhor para meu filho. Nesse diálogo, aprendi que preciso me instruir para tornar-me sábia como o senhor.

 

— Dona Gata, a sabedoria se faz presente quando conseguimos abrir o terceiro olho.

 

Pedrinho, ainda acordado, resolveu manifestar-se e disse-me:

 

— Mamãe, a Sensei pensou que arranhei meu amiguinho porque sou maldoso. A voz estava esganiçada e uma lágrima rolou.

 

— Por isso ela disse que cortaria meu dedinho fora. Estava brincando de gatinho e gatinhos arranham.

 

— Pedrinho, sua professora está estressada, ela cuida de muitas criancinhas, o dia dela é atarefado. Perdoe-a e não a veja como uma pessoa ruim. Ela jamais cortaria seu dedinho. Foi o jeito que ela encontrou para dizer-lhe que não pode machucar o amiguinho.

 

— Mamãe, posso ser gatinho? Posso?

 

— Claro que pode, sempre que você quiser.

 

— Então, vou arranhar só de faz de conta, sem tocar no meu amiguinho.

 

— Miau, miauuu.

 

Fez cócegas na mamãe… kkkk.

 

Boa noite, Pepe. Dorme com Deus.

 

Talvez Pedrinho não tenha entendido muito sobre essa conversa, mas entendeu que pode ser gato, porque respeitará o próximo, e que ser gatinho é muito divertido.

 

Sonia Lupion Ortega Wada

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 07/12/2011
Alterado em 02/05/2025
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