Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Eu sei que vou morrer.

Não é um pressentimento sombrio, nem uma lamentação. É apenas um entendimento silencioso que se senta ao meu lado, como uma velha amiga. Um dia, eu vou partir — como Deus quiser, quando Ele quiser. E tudo bem. Não sou eterna. Deus sim. E é pra Ele que quero voltar.

 

Aprendi, com o tempo, que reconciliar-se com a morte é um gesto de sabedoria. Morrer não é castigo. Morrer é um privilégio. Uma pausa. Um repouso merecido depois de uma longa jornada na matéria. Uma travessia. Uma mudança significativa.

 

Mas por que, meu Deus, é preciso sofrer tanto para morrer? A vida já nos exige tanto. O corpo se esgota, a alma se cansa. E quando chega a hora, ainda assim, a dor vem nos lembrar que não é fácil ir embora.

 

Eu entendo que o Senhor respeita nossa liberdade — e mesmo assim me pergunto: por que não podemos escolher como partir? Por que não morrer dormindo, num sopro de paz? Eu peço, em todas as minhas orações, essa morte tranquila. Por mim. Por todos nós. Não será isso também uma forma de merecimento?

 

A vida é corajosa. E viver exige força. Tanta, que às vezes duvidamos se temos. E mesmo quando erramos — e eu errei, Senhor — ainda assim nos arrependemos, nos purificamos, nos levantamos. Todos os dias, eu morri um pouco e renasci. Será que isso não basta?

 

E então me vêm as crianças. Meu Deus… as crianças. Por que elas? Por que doenças cruéis, violências que não consigo nomear? Como um pai ou uma mãe sobrevive a essa dor? Essa pergunta me persegue, e só o Senhor pode respondê-la. Mas, se posso pedir: poupa-nos, poupa-os, poupa a todos. De tanto sofrimento.

 

Sim, sei que a alma precisa de lapidação. Mas todos os dias, em cada lágrima, já há purificação. E mesmo assim, parece que ainda é pouco para Ti. Não compreendo essa lógica divina. Essa ideia de merecimento não ressoa em mim.

 

Eu tentei, Senhor. Amei. Dei tudo de mim. Fui Mãe com M maiúsculo. Entreguei o que tinha e o que não tinha. Fui forte, mesmo quando desmoronei por dentro. E muitas vezes, me senti só. Perdida. Mas o Senhor viu. Esteve comigo. Sabia da guerra silenciosa que eu travava por dentro.

 

E mesmo assim, continuo perguntando: por que tantos partem com dor? Por que os animais também sofrem? Onde está a compaixão no fim?

 

Me perdoa, Deus, por questionar. Mas minha alma tem sede de entendimento. Talvez ainda não seja hora de levantar o véu. Talvez eu não esteja pronta para ver tudo. Ainda assim, agradeço. Porque em certos momentos, Tu me permitiste espiar o invisível. E isso me basta… por enquanto.

 

Só te peço, com humildade: sê misericordioso. Com todos nós.

E quando chegar a hora, que ela venha como um sussurro. Sem dor.

Como um retorno… para casa.


Sônia Lupion Ortega Wada 

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 27/04/2025
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