(Para Milena-chan e Marin-chan)
Hoje sou história sussurrada,
entre um chá quente e um sorriso miúdo.
Sou “Vovó Sônia”,
com olhos que viram o mundo
e mãos que hoje colhem o instante.
Nos olhos da Milena-chan,
vejo o brilho da primeira alvorada
que vi do lado de cá do planeta —
uma menina que, sem saber,
me ensina a ser nova outra vez.
E Marin-chan, pequena flor de julho,
traz em seu silêncio atento
as perguntas que um dia fiz ao céu:
“Quem sou eu, tão longe de mim?”
Ela responde sem palavras —
com a pureza de quem chegou agora,
mas já conhece tudo.
A travessia, percebo agora,
não foi só minha.
Foi também delas,
que herdam meu olhar estrangeiro,
meu coração andarilho,
meu amor sem fronteiras.
E assim, entre colos, brinquedos
e livros ofertados com doçura,
vou escrevendo o que importa:
não o lugar onde vivo,
mas os afetos que me habitam.