Réquiem do Tempo II
O tempo tem um jeito sereno de dizer adeus. Ele não grita, não interrompe, apenas esvanece… como a luz que se apaga lentamente no horizonte, deixando o céu num silêncio de cores que ainda dançam. A vida, nesse intervalo, curva-se em gratidão. Não há pressa no fim, nem desespero. Há uma entrega. Uma sabedoria que sussurra: “foi o bastante, agora é hora de voltar à fonte.”
Tudo que nasce sabe, no fundo do seu pulsar, que um dia retornará ao lugar de onde veio. E esse retorno não é uma perda — é uma expansão. A folha seca não chora por ter caído; ela sabe que, ao tocar o chão, alimenta outras vidas. O corpo que descansa na terra não é mais ausência, é raiz, é ciclo, é ponte entre o que foi e o que virá.
Neste réquiem, o tempo canta uma canção sem palavras, feita de memórias e sopros. Uma canção que não lamenta, mas celebra. Celebra o toque das mãos, o riso compartilhado, o silêncio cheio de sentido entre duas almas que se reconheceram. Celebra os gestos simples, os encontros breves, os amores que floresceram mesmo sob o peso das estações.
Tudo retorna. Tudo renasce. Há um sopro escondido na morte que sopra de novo no ventre da vida. E o que parte — se for amado — não desaparece: transforma-se em presença sutil, em vento na cortina, em estrela que pisca ao longe, em lembrança que aquece.
O tempo, sábio, embala a vida como quem embala um filho no colo. Ele sabe que o fim é apenas outra forma de começo. E, no compasso secreto do universo, cada adeus é também uma promessa: a de que tudo continua, sob outra forma, em outro lugar, no coração de quem sabe sentir.
By sônia