Laços que Não se Rompem
by Sônia
Há um ditado antigo, que o tempo sussurra:
Quando os pais se vão, enterramos no chão.
Mas quando um filho parte,
é no peito que repousa —
sem lápide, sem fim,
sem alívio ou perdão.
Dizem que filhos perdidos não se enterram.
Carregam-se.
Como pedras ou preces.
Como sombras que chamam no escuro.
E eu me pergunto,
num sussurro que só o coração ouve:
Perderam-se de mim?
Ou me deixaram?
Não peço respostas.
Não quero mentiras doces.
Mas sei:
Meus pais ficariam tristes,
se soubessem da dor que herdei.
Vivi no inferno deles —
e em dias de tempestade,
fui também o deles.
Mas fui céu, tantas vezes,
nos gestos, no amor mudo,
nos sonhos que plantei.
E um dia,
quando os passos forem mais leves que o vento,
eu os encontrarei.
É assim com os laços de sangue,
de alma, de eternidade.
Mesmo tendo dito: “nunca mais”
tantas vezes.
Quando a hora chegar,
só pensarei no abraço.
Aquele,
que o tempo não levou.