Ploc, ploc, ploc.
O som vinha lá do quintal, cadenciado como se alguém estivesse contando segredos com gotas. A mãe, sentada com o bebê nos braços, embalava-o com ternura enquanto ele mamava devagarinho. O barulho persistia, ritmado. Ela sorriu, sussurrando em seu ouvido:
— Deve ser um anjo… um anjo soluçando baixinho.
Mas Pedrinho, com os olhos sempre prontos para o mistério, franziu a testa. Não era anjo, nem vento — disso ele tinha certeza. Será que era um esquilo guloso, escondido atrás do vaso, com dor de barriga? Ou seria algum brinquedo com defeito, chorando em estalos mecânicos?
O som continuava.
Ploc. Ploc. Ploc.
Pedrinho largou o peito, atento. A mãe, percebendo a inquietação, levantou-se com ele nos braços. Juntas, suas sombras seguiram em silêncio até o quintal, guiadas pela música dos estalos. E então, viram.
Ali, como uma joia da saudade, estava o bonsai de jaboticaba. Uma miniatura do Brasil no meio do jardim japonês. Em seus ramos, frutos pequenos e escuros brilhavam como olhos de criança em dia de festa. E pousado com graça entre as folhinhas, um pardal — de peito leve e bico azul-anil — bicava uma fruta, depois outra, e mais uma. A cada bico, um som: ploc!
A cada som, um pulinho.
Era uma dança discreta e feliz. Um espetáculo para quem soubesse olhar com o coração.
Pedrinho arregalou os olhos. Tanta beleza cabia ali, naquele instante. Ele olhou o bonsai, olhou o pássaro, e pensou que talvez fosse um haikai esperando nascer. Um haikai nipo-brasileiro, desses que juntam o cheiro da terra molhada com o brilho do origami.
E depois, como só as crianças sabem fazer, ele sorriu malicioso:
— Dá pra jogar com essas bolinhas?
Sônia- mamãe