Prosa Poética 2 – Noite
A noite desceu suave sobre a praia, como um manto azul-escuro bordado de estrelas. As gaivotas, mais quietas, ainda estão ali — algumas dormem encolhidas na areia, outras vigiam o silêncio com olhos de brasa. O mar respira em ondas lentas, sussurrando segredos antigos à beira do mundo.
A menina voltou. Agora mais alta, talvez mais triste, talvez mais inteira. Os pés tocam a areia fria e ela se senta no mesmo lugar de antes, como quem reencontra uma lembrança que ainda pulsa. A luz da lua escorre pelo seu rosto e cintila nas penas espalhadas ao redor, como pequenas oferendas esquecidas pelo tempo.
Ela olha o céu e vê ali um reflexo do que carrega por dentro — vasto, silencioso, cheio de perguntas. E ao ouvir o bater suave das asas no escuro, sente que alguma parte de si ainda sabe voar.
As gaivotas noturnas não fazem festa. Elas apenas estão. Como ela. Como a noite. Como tudo que é belo demais para gritar.
Prosa Poética faz parte da minha coleção de textos reunidos : A Praia que me Guarda.
by Sônia