Uma chuva fina, quase tímida, cai sobre a praia deserta. O céu está pesado, mas não bravo — parece apenas pensativo. As gaivotas, raras agora, esvoaçam de um lado ao outro em silêncio, procurando abrigo ou talvez apenas sentido.
Ela volta.
Os passos deixam marcas fundas na areia molhada, que logo a chuva apaga — como se o tempo dissesse: “não te preocupes, estou cuidando de tudo”. O mar continua ali, escuro, profundo, chamando. Ela caminha devagar, como quem respeita um santuário antigo. Os cabelos encharcados colam no rosto. Ela não se importa.
Há anos não vinha. A infância ficou em algum lugar atrás das ondas, mas as lembranças estão todas ali: a menina, as gaivotas, o sol. Agora é outra luz, outro céu, outra pele — mas o mesmo coração.
Então ela vê: uma gaivota solitária no chão molhado, exatamente onde costumava se sentar. Não foge, não se assusta. Apenas a observa, como quem reconhece.
Ela se senta. De novo. Sob a chuva. E sorri. Não com os lábios, mas com o corpo inteiro. Como quem encontra algo que nunca se perdeu.
E enquanto as gotas escorrem pelo seu rosto, ela percebe: está chorando também. Mas é uma chuva boa. Uma chuva que limpa, que lava, que devolve.
Na praia, entre silêncio e asas, ela finalmente entende: há encontros que só a saudade sabe preparar.