Silêncio que Cai
Queria ser como a neve —
silenciosa,
invisível no cair,
abraçando o mundo
sem deixar cicatriz.
O céu parece bem mais vasto agora,
como se meus pensamentos tivessem se soltado,
como se o tempo respirasse mais devagar
e o frio fosse apenas um jeito de lembrar.
Ser neve —
para apagar pegadas antigas,
para repousar onde o ruído não chega,
para tocar sem ferir,
para partir sem pesar.
Talvez, sendo neve,
eu me dissolvesse nos telhados das lembranças,
sem dizer adeus.
Deixaria um instante de branco
sobre aquilo que doeu,
não para apagar —
só para aquietar.
Nenhum gesto grandioso,
nenhuma urgência.
Apenas o cair,
a pausa,
o não-peso.
Ser neve,
para caber no silêncio
sem precisar explicação.