Florescer sem primavera”
By Sônia, com alma inteira
Nasci onde o afeto era inverno,
onde o olhar não sabia calor.
Em casa, o amor era ausente,
ecoava só silêncio e dor.
Falei de minha dor recente,
de um tempo que exigirá coragem,
mas ela — mãe de sangue e ausência —
me recebeu com a velha paisagem.
Frieza.
Como se eu fosse estranha.
Como se sessenta e um anos
não fossem parte de sua entranha.
Mas Deus,
ah, Deus bordou outros caminhos.
Me deu mães de alma,
de braços quentinhos.
Mulheres que viram em mim
mais do que rejeição ou rótulo.
Me chamaram filha
com o coração em múltiplo.
E assim, sem primavera em casa,
eu floresci do mesmo jeito.
Com raízes fincadas na esperança,
e pétalas abertas no meu próprio peito.
Porque o amor, quando não vem do berço,
pode vir do mundo, da amizade, da estrada.
E o que não recebi de quem me gerou,
recolhi do céu, das mãos alheias, da palavra dada.
Hoje sou flor que resiste,
sou jardim que aprendeu a brotar.
Mesmo sem primavera em casa,
eu insisto em amar.
Talvez,
na próxima vida,
você me chame de filha
com o coração desperto.
“Inspirado por histórias de flores que nascem mesmo sem primavera.”