Os muitos lares do envelhecer no Japão”
O Japão é conhecido pela sua impressionante longevidade. Mas o que pouco se mostra é como essa velhice acontece, onde ela acontece — e em que condições.
Neste país que envelhece rapidamente, os lares para idosos se tornaram parte essencial da estrutura social. Existem milhões deles espalhados por todo o território, atendendo diferentes perfis e necessidades. Cada tipo de lar carrega uma realidade própria. Cada idoso, uma história.
Grupo Home
Aqui vivem aqueles que ainda têm alguma autonomia. São idosos que conseguem realizar atividades básicas, mas que não querem — ou não podem — viver sozinhos. O grupo é pequeno, e o ambiente é mais íntimo. Comem juntos, participam de atividades, dividem a rotina como uma pequena família. Há cuidado, mas também convivência. Um verdadeiro lar.
Jūtaku (Lar Liberal)
É o espaço da liberdade supervisionada. Cada idoso tem seu quarto, seu próprio ritmo. A geladeira é cheia de suas preferências, e podem comer e beber o que desejarem. Recebem visitas à vontade e cuidados de saúde e higiene quando necessário. É um modelo que valoriza a individualidade dentro de um ambiente coletivo.
Hōmon Kaigo
Este é o lar do fim da linha. Aqui vivem os mais debilitados — idosos com graves limitações físicas e mentais, a maioria cadeirante. É um espaço silencioso, onde a vida é mantida com dignidade até o último suspiro. A equipe é dividida entre enfermeiras e cuidadores, que se revezam dia e noite, oferecendo o que for preciso: banhos, medicações, companhia. A rotina é pesada, e a tristeza, muitas vezes, inevitável.
Por trás de cada estrutura, há uma ausência que pesa: a presença da família. Em muitos casos, os parentes não visitam. Alguns por falta de tempo, outros por desconexão afetiva. A responsabilidade pelo cuidado é transferida inteiramente aos profissionais.
E é nesse cenário que eu, uma estrangeira, caminho todos os dias.
Eu cuido.
Mas também beijo, abraço, canto.
Trago comigo o calor de um Brasil onde afeto é toque, onde carinho é presença.
Porque mesmo diante da repetição, da solidão, do corpo cansado,
há ainda uma vida esperando por um gesto humano.
E cuidar, para mim, é isso:
fazer do dia comum um instante de valor.
Matsuda San, Koga San, Maeda San, Kobayashi San, Uenishi San, adoráveis e valentes mulheres.
Flores em mãos enrugadas”
No silêncio delicado de um lar de idosos no Japão,
nascem cores.
Flores de papel, corações recortados com cuidado,
arte que não sai de máquinas,
mas dessas mãos enrugadas —
minhas, e das anciãs japonesas que o tempo moldou.
Sou estrangeira aqui.
Mas o afeto não tem idioma:
abraço, beijo, canto, danço.
Preencho o vazio da rotina
com tudo que aprendi no Brasil:
oferecer o coração inteiro.
Hoje, celebramos 94 anos de uma vida.
E celebramos também o instante:
onde o papel vira flor,
e o cuidado vira arte.
by Sônia