Quando a Poesia Transcende
Há momentos em que a palavra escrita parece fugir das mãos do autor, como se ganhasse vida própria, navegando no vento antes mesmo de ser lida. É como se a poesia, aquela criatura viva, não pertencesse mais a quem a criou, mas se tornasse um murmúrio coletivo, um sopro que passa por todos, tocando o mais íntimo da alma.
Às vezes, leio um poema e sinto que ele não foi escrito só para mim, mas por mim — como se eu tivesse esculpido aquelas linhas com meu próprio silêncio, minha própria esperança, meu próprio medo. E então percebo: o poeta é apenas um instrumento afinado, um canal por onde uma Voz maior sussurra o que o coração do mundo precisa ouvir.
É esse mistério que encanta e desafia. A poesia pode ser um reflexo do Divino que vive em nós, um espelho onde reconhecemos, sem medo, as nossas dores e as nossas luzes. A fé e a dor, o amor e a entrega, a comunhão e a solidão — tudo ali, entre os versos, pulsando em uníssono com o que há de mais verdadeiro em nosso ser.
E quando isso acontece, a leitura deixa de ser passiva. Viramos coautores, habitantes do mesmo tempo sagrado, caminhantes que compartilham a mesma estrada de luz e sombra. A poesia deixa de ser uma obra e se torna um encontro, um abraço silencioso que atravessa o espaço e o tempo.
Por isso, ao sentir que um poema “é meu”, não se iluda: ele é de todos, porque nasce do que somos em essência — frágeis, fortes, humanos e divinos.