Mulher-Cavalo
Capítulo 1 – O Despertar
Desde menina, algo em mim estremecia ao ver um cavalo.
Não era medo, nem encantamento comum — era reconhecimento.
Como se uma parte esquecida da minha alma visse, enfim, um espelho em movimento.
Ele passava e deixava no ar um cheiro de vento livre, de mundo sem muro, de promessas feitas entre silêncios.
Eu não sabia dizer.
Mas o corpo sabia.
O coração se agitava como cascos sobre terra firme.
A pele entendia: aquela criatura me conhecia antes de mim mesma.
Desde então, ele me fascina —
não como quem admira de longe,
mas como quem pertence.
Força e liberdade, sim.
Mas também mistério, dor silenciosa, beleza que atravessa.
Um ser complicado como o coração humano,
e leal como quem volta, mesmo depois de fugir.
Quando ele corre, parece que o mundo segura o fôlego.
E dentro de mim, algo corre junto.
Um sonho antigo.
Uma saudade do que nunca fui, mas sempre estive prestes a ser.
Há quem veja apenas um animal.
Eu vejo um mito em carne viva.
Um fogo sobre a água.
Um espírito que dança com os deuses e volta — só para lembrar à terra quem ela foi um dia.
E então percebo:
não é sobre o cavalo.
É sobre mim.
Sou eu que galopo por dentro, em busca daquilo que nenhum nome alcança.