Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Mulher-Cavalo

 

 

Capítulo 4 – Nem Rédea, Nem Jaula

 

Não nasci para agradar.

Nasci para ser.

 

E ser, às vezes, assusta.

Porque ser inteiro é como ser cavalo solto:

ninguém sabe ao certo se você vai ficar ou correr.

Se vai confiar ou empinar.

Se vai relinchar de alegria ou silenciar fundo.

 

Me quiseram mansa.

Me pediram sorriso onde havia tempestade.

Tentaram por rédeas nos meus desejos,

e cercas nas minhas palavras.

 

Mas minha alma não aceita freio.

Ela empina, rompe, relincha —

não por rebeldia gratuita,

mas porque nasceu com a memória da liberdade gravada nos ossos.

 

Já tentei ser dócil.

Acredite.

Já me curvei diante de afetos mal compreendidos,

me modelei às expectativas dos outros como quem tenta caber em sela que aperta.

 

Mas doeu.

 

Doeu no corpo, na alma, na crina invisível que se partia cada vez que eu me calava.

Doeu até que entendi:

a docilidade que me exigiam não era ternura — era controle.

E então rompi.

 

Não quero jaulas disfarçadas de abraços.

Nem rédeas feitas de promessas.

Quero campo.

Quero vento no rosto e terra nos pés.

Quero o direito de ir e de voltar —

por vontade própria.

 

Sou Mulher-Cavalo.

Não nasci para submissões,

mas para parcerias.

Não fujo do afeto —

mas recuso o laço que não me vê por inteiro.

 

Sou feita de instinto e discernimento.

Tenho olhos que brilham no escuro,

e ouvidos que reconhecem o som da mentira mesmo sob o canto mais doce.

 

Nem rédea, nem jaula.

Se quiser caminhar comigo, venha ao meu lado —

não à minha frente, nem atrás.

E venha de verdade.

Porque se eu pressentir qualquer falsidade…

meu galope será a resposta.

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 26/05/2025
Alterado em 26/05/2025
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