Reflexo da Paisagem-Alma
Minha alma tem o peso da Terra —
não como um fardo, mas como memória.
É antiga, como as primeiras montanhas que se erguem silenciosas no horizonte.
Guardo pores do sol como quem coleciona despedidas luminosas:
rosa, dourado, silêncio.
Caminho entre fileiras de arroz, descalça.
A água fina do arrozal não reflete o céu — reflete o que sou.
Porque ali, nas margens da tarde, é a alma que tinge o espelho do mundo.
E cada poente, mesmo que semelhante ao anterior, nunca se repete.
Sempre há uma curva nova na luz,
uma sombra inesperada no gesto do vento,
um pássaro que pousa pela primeira vez.
As montanhas apenas guardam.
O sol apenas observa.
Mas é a alma quem vive,
quem se revela a cada nuance,
como se dançasse por dentro da paisagem.
É nessa dança imperceptível, nessa variação sutil,
que me reconheço:
mutante, cíclica, imortal.
A paisagem da alma não está fora.
Ela se revela no que se vê —
e, sobretudo, no que só se sente.
Porque no fim,
o reflexo mais verdadeiro do mundo
está onde o céu toca a alma
por dentro.