Apassarinhamentos
Quando o silêncio me visita
é como se a terra se abrisse em mim
e a palavra ainda adormecida
sonhasse com voo.
No princípio, tudo é escuro.
A palavra é semente cega,
mas há um calor —
uma memória de asas.
Então, eu não digo.
Eu escuto.
Eu não peço.
Eu respiro.
E no intervalo entre uma dor e outra
ela vem:
uma sílaba viva,
com olhos de passarinho,
assentando-se no galho do meu peito.
Quem tem ninho dentro do peito
sabe acolher essa ave.
Não a prende.
Não a ensina.
Apenas deixa que ela cante.
E quando ela canta,
a alma inteira se abre em flor:
palavra que brota do silêncio
e volta ao céu,
com o coração de quem a escutou.