O Canto de Belavaha
Ninguém chega a Belavaha pela estrada.
Ela não se mostra no horizonte.
Ela surge — quando o silêncio é profundo e o peito está limpo.
Dizem que existe um lugar onde o som não morre,
ele se transforma.
Ali, em vales cobertos por névoas violetas,
as mulheres anciãs guardam uma canção que não tem nome.
Elas a chamam apenas de Sing.
“Sing de Belavaha”
— é o nome do portal onde o mundo canta para dentro.
Belavaha não é só geografia.
É vibração.
É o santuário onde os sons do mundo vão descansar.
Ali dormem os cantos dos pássaros extintos,
as últimas notas de harpas esquecidas,
os murmúrios das mães que embalaram filhos em tempos de guerra.
No centro do vale, há uma pedra grande e oca,
que emite um som grave quando o vento passa.
Quem a ouve, chora.
Mas não de tristeza.
De lembrança.
Os que chegaram até lá contam
que ouviram o nome verdadeiro da alma,
aquele nome que esquecemos ao nascer.
Belavaha não se vê.
Se escuta.
E quem escutou uma vez,
jamais se sente sozinho de novo.