Parte das Marés
Já não era só terra.
O corpo dela agora era costa,
rocha salgada onde as ondas quebravam,
e também espuma que voltava ao mar.
Ela tinha o sal nos poros
e o silêncio das conchas dentro do peito.
Aprendeu que o mar não se entende,
apenas se escuta.
E que o amor, quando é maré,
não vem para ficar —
vem para lavar.
Marés que me dobram
Há mar dentro de mim.
Vem em ondas miúdas,
dobrando meus joelhos,
chamando meu ventre para dentro.
Às vezes maré cheia,
transbordo sem pedir licença.
Às vezes vazante,
deixo tudo o que não é meu
escorrer pela areia do peito.
Sou mulher de correnteza,
de silêncio que volta.
Quem quiser me amar,
que aprenda a nadar em mim.