Entre o Estímulo e o Sentido
Dedicado à Miriam Cristina Borri
Encontrou o Nirvana com um propósito
Reflexões inspiradas em Viktor Frankl
por Sônia 🌿
Descobri que há uma fresta entre o que nos acontece e o que escolhemos fazer com isso. Um intervalo minúsculo, quase imperceptível — mas é ali que mora a liberdade. Entre o estímulo e a resposta, dizia Viktor Frankl, existe um espaço. E nesse espaço, somos.
Frankl sobreviveu ao horror dos campos de concentração. Não sobreviveu porque teve sorte, mas porque tinha um porquê. Uma imagem da esposa. Um livro inacabado. A fé silenciosa de que a vida ainda queria algo dele.
Essa é a essência da logoterapia: a vida não precisa ser confortável para ser significativa. A vontade de sentido é o que nos move, mais do que a busca por prazer ou poder.
Passei a ver que mesmo a dor pode ter sentido —
não como glorificação do sofrimento, mas como afirmação da coragem.
Que a beleza não está em evitar os espinhos,
mas em não perder o tato, mesmo sangrando.
Escrever, por exemplo, nunca foi só um ofício.
É meu modo de fazer perguntas à vida sem gritar.
Meu jeito de bordar esperança nas bordas da dúvida.
Frankl falava da vontade de sentido como a principal força que nos move.
Não o prazer, não o poder — mas o propósito.
E há propósito até na amizade, quando ela firma sem sufocar.
Há sentido num poema. Num chá preparado em silêncio.
Num gesto que ninguém vê.
Desde que compreendi isso, passei a olhar meus dias com outros olhos. A dor, às vezes inevitável, não é um fim. Ela pode conter um convite à escuta, à transformação, à coragem. Não é sobre negar o sofrimento, mas sobre não deixá-lo nos definir.
Hoje, minha fé é esse espaço.
Esse breve instante entre o que a vida me impõe e o que decido fazer com isso.
É ali que posso respirar.
É ali que posso lembrar de mim.
É ali que posso escolher não me perder.
Entre o estímulo e o sentido, há um chão possível.
Ali, sem barulho, decido continuar.
Com verdade.
Com presença.
Com alma.