Quando o Trono Ficou Vazio
Durante séculos, o homem caminhou à frente.
Erguia casas, caçava o sustento, batia o martelo das decisões.
Carregava nas costas o peso do comando e, nos olhos, o dever de proteger.
Era o patriarca — não por vaidade, mas por destino.
A mulher, rainha do lar, reinava em silêncio.
Tinha o saber da terra, o dom de gerar, o faro do que é certo.
Seu reino era invisível, mas vital: ali, no detalhe, no cuidado, na intuição que ensina sem palavras.
Juntos, formavam um eixo, uma balança.
Nem sempre justa, mas funcional.
Cada um sabia onde pisar.
Então o tempo virou.
A mulher ergueu os olhos e disse: “Basta.”
Quis estudar, trabalhar, liderar, crescer.
E conseguiu.
Tomou a própria voz, o próprio espaço, o próprio corpo.
Ergueu castelos onde antes havia silêncio.
E ao fazer isso, sem pedir licença, sem se desculpar,
ela tirou o homem do trono.
Não por maldade — por urgência.
Mas talvez seja hora de mudar o verbo.
A mulher não destronou.
Ela apenas ocupou o espaço que também era dela, e que por muito tempo lhe foi negado.
Fez isso não para usurpar — mas para existir inteira.
E o homem, agora sem lugar fixo, sentou-se à margem.
Alguns se perderam nas telas, nos jogos, nos vícios de quem já não sabe o que construir.
Outros se calaram, cansados de errar cada vez que tentam acertar.
Querem apenas ser homens — amados, necessários, vivos.
Mas não sabem mais como.
A mulher, por sua vez, carrega o mundo nas costas.
Trabalha, cria, decide, batalha.
Mas sente falta do braço firme, da parceria que ampara.
Não quer voltar atrás.
Mas também não quer caminhar sozinha.
E agora?
Agora talvez seja tempo do homem se levantar.
Não para retomar o trono — mas para redefinir o seu lugar.
Ser patriarca não é mandar: é proteger, prover, sustentar com honra.
Ser matriarca não é servir: é nutrir, acolher, ensinar com sabedoria.
Não se trata de voltar ao passado.
Nem de romantizar uma estrutura desigual.
Mas de reconhecer que a ausência masculina também é um problema social.
Que a presença dos dois — em seus papéis maduros, complementares, reinventados —
é fundamental para o equilíbrio da casa, da rua, do mundo.
Homem e mulher.
Diferentes, sim, mas não opostos.
Parceiros na travessia de um tempo novo.
Um tempo onde não se briga por tronos,
mas se constrói juntos o chão.
Porque os filhos precisam disso.
Não de pais perfeitos —
mas de adultos presentes.