Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Quando o Trono Ficou Vazio

 

Durante séculos, o homem caminhou à frente.

Erguia casas, caçava o sustento, batia o martelo das decisões.

Carregava nas costas o peso do comando e, nos olhos, o dever de proteger.

Era o patriarca — não por vaidade, mas por destino.

 

A mulher, rainha do lar, reinava em silêncio.

Tinha o saber da terra, o dom de gerar, o faro do que é certo.

Seu reino era invisível, mas vital: ali, no detalhe, no cuidado, na intuição que ensina sem palavras.

Juntos, formavam um eixo, uma balança.

Nem sempre justa, mas funcional.

Cada um sabia onde pisar.

 

Então o tempo virou.

A mulher ergueu os olhos e disse: “Basta.”

Quis estudar, trabalhar, liderar, crescer.

E conseguiu.

Tomou a própria voz, o próprio espaço, o próprio corpo.

Ergueu castelos onde antes havia silêncio.

E ao fazer isso, sem pedir licença, sem se desculpar,

ela tirou o homem do trono.

Não por maldade — por urgência.

 

Mas talvez seja hora de mudar o verbo.

A mulher não destronou.

Ela apenas ocupou o espaço que também era dela, e que por muito tempo lhe foi negado.

Fez isso não para usurpar — mas para existir inteira.

 

E o homem, agora sem lugar fixo, sentou-se à margem.

Alguns se perderam nas telas, nos jogos, nos vícios de quem já não sabe o que construir.

Outros se calaram, cansados de errar cada vez que tentam acertar.

Querem apenas ser homens — amados, necessários, vivos.

Mas não sabem mais como.

 

A mulher, por sua vez, carrega o mundo nas costas.

Trabalha, cria, decide, batalha.

Mas sente falta do braço firme, da parceria que ampara.

Não quer voltar atrás.

Mas também não quer caminhar sozinha.

 

E agora?

Agora talvez seja tempo do homem se levantar.

Não para retomar o trono — mas para redefinir o seu lugar.

Ser patriarca não é mandar: é proteger, prover, sustentar com honra.

Ser matriarca não é servir: é nutrir, acolher, ensinar com sabedoria.

 

Não se trata de voltar ao passado.

Nem de romantizar uma estrutura desigual.

Mas de reconhecer que a ausência masculina também é um problema social.

Que a presença dos dois — em seus papéis maduros, complementares, reinventados —

é fundamental para o equilíbrio da casa, da rua, do mundo.

 

Homem e mulher.

Diferentes, sim, mas não opostos.

Parceiros na travessia de um tempo novo.

Um tempo onde não se briga por tronos,

mas se constrói juntos o chão.

 

Porque os filhos precisam disso.

Não de pais perfeitos —

mas de adultos presentes.

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 04/06/2025
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