De um lado do mundo ao outro: Dinéri
Há pessoas que atravessam continentes dentro da gente.
Dinéri é assim.
Enquanto o Japão se deita em minhas janelas com o silêncio das cerejeiras,
ela permanece viva em mim — lá do Brasil —
com sua voz que me alcança mesmo quando não diz palavra.
Dinéri tem a alma aberta como varanda.
De zero a cem anos, todos encontram nela um canto,
um café, um conselho, uma gargalhada.
Ela fala com firmeza, ouve com paciência, pondera com sabedoria.
Uma mulher que já viu a morte de perto —
e, em vez de se amedrontar, aprendeu a amar ainda mais a vida.
Com 21 anos, ela enfrentou o câncer como quem aprende a caminhar no escuro.
Sozinha, mas inteira.
Superou metástases com um tipo raro de esperança:
aquela que não se grita, apenas se vive.
Hoje, aos 55, é farol.
Um desses que a gente nem precisa olhar para saber que está aceso.
Mesmo longe, ela me acolhe.
Mesmo do outro lado do mundo, me escuta.
Mesmo nas minhas sombras, ela acende luz.
Dinéri não é só amiga —
é irmã de jornada,
casa sem muros,
fé sem esforço.
E enquanto eu trilho minha própria travessia,
com medos e quimioterapia,
sinto sua mão invisível segurando a minha.
Nós nos acolhemos. Sempre nos acolhemos.
Porque amizades verdadeiras não conhecem distância,
apenas presença.
By Sônia Lupion Ortega Wada