Antes do Passo
E se eu soubesse tudo antes?
Se o caminho já viesse com placas, alertas, mapas
e setas gritando “cuidado” na beira de cada escolha?
Se eu pudesse prever o instante exato da queda,
o primeiro tropeço,
a palavra mal ouvida,
a ausência que viria depois do abraço?
Talvez eu nunca tivesse amado.
Nem partido.
Nem voltado.
Nem escrito.
Talvez eu tivesse me sentado à beira da vida,
calculando o vento
com medo de me despentear.
Mas a vida — a vida verdadeira —
não quer perfeição.
Quer presença.
Não quer garantias.
Quer pulso.
Ela se dá no risco da resposta,
no susto do sim,
no silêncio que antecede o salto.
Há um saber que só vem depois do passo,
quando o chão cede,
e ainda assim a gente cai em pé.
Então, se antes do ato vier o medo,
que venha também a coragem de não saber tudo.
De sentir, mesmo sem certeza.
De ir, mesmo sem destino.
De ser, apesar.
Porque viver, no fim,
é esse gesto teimoso de mover-se
sem saber se será voo
ou queda —
mas ir mesmo assim.