🌿 Entre o Peso e o Colo — Sobre Autonomia e Acolhimento Espiritual
Há quem diga que os problemas devem ser enfrentados a sós. Que cada um deve buscar dentro de si a força para suportar a vida e suas dores. E há sabedoria nisso. A dor que se transforma em crescimento precisa, muitas vezes, da solidão que ensina e da travessia que se faz com os próprios passos.
Joanna de Ângelis nos lembra: é desrespeito sobrecarregar o outro com aquilo que é nosso, sem reconhecer que ele também carrega suas próprias aflições. O caminho do espírito exige responsabilidade, discernimento e coragem. E há uma beleza profunda nessa ética da solidão ativa.
Mas há outra face, igualmente sagrada, que não anula a primeira — apenas a amplia.
Porque se é verdade que ninguém pode viver por nós, também é verdade que ninguém precisa sofrer sozinho. O colo não substitui a travessia, mas pode nos dar força para continuar. O silêncio compassivo não resolve, mas sustenta. E há gestos de amor que são orações em forma de presença.
Na espiritualidade que aprendi a viver — e a sentir — o cuidado é um idioma sem palavras. Está em colocar uma meia em pés enrugados. Em servir chá com as duas mãos. Em sorrir para quem se esqueceu do próprio nome. É fé que não pede altar. É ternura que costura o invisível com os fios da delicadeza.
Assim, não é contradição — é dança.
A vida pede que sejamos fortes por dentro, sim.
Mas também pede que sejamos ombro, quando for o outro quem precisa descansar.