Sótão das Coisas Queridas
(onde o tempo se deita em segredo)
Há um sótão no meu lar,
onde o tempo empilha ternuras.
Não é lugar de pó,
mas de lembranças que brilham
mesmo apagadas.
Ali dormem
bilhetes dobrados,
fotos com cheiro de tarde,
cartas que nunca foram enviadas,
brinquedos com olhos de infância,
um vestido que dançou no corpo
de quem fui.
Cada caixa —
um relicário.
Cada dobra —
um sussurro de quem me amou,
de quem eu amo
e ainda não disse.
Há bonecas com cabelos desalinhados,
flores secas entre páginas,
e até um velho diário
com poemas tolos —
mas tão sinceros
quanto a primeira oração.
No sótão,
tudo respira com cuidado.
É o abrigo do que já foi
e ainda pulsa.
É onde repousa
minha avó dizendo meu nome,
meu filho pequeno me chamando,
uma música que só o coração ouve.
Santuário da memória,
quase secreto,
mas eternamente meu.