Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Amor sem perucas

 

 

Renga inicial

 

Mãos que acolhem,

riso solto, sem véus,

amor desnudo.

 

No chão, vida dança,

cores, vozes, inocência —

tempo se desfaz.

 

No colo sereno,

o coração sussurra,

paz que floresce.

 


 

 

E a prosa segue…

 

Para acalentar a alma, não tem nada mais gostoso do que a companhia de crianças.

 

No chão, onde a vida se esparrama sem cerimônias, entre lápis coloridos, papéis amassados e gargalhadas, descubro um lugar sagrado. É ali que me deito com elas — não só com o corpo, mas com o coração inteiro.

 

No colo, silêncio —

sonhos embalados em voz,

paz que se derrama.

 

A menor, ainda cheia de cheiros de céu, se aconchega em meu colo como quem já sabe onde mora o amor. Não entende bem minhas canções, mas escuta outra melodia — a que nasce do meu peito, da minha alma de avó. E adormece assim, embalada pela voz que não precisa de palavras.

 

Risos que voam alto,

feito vento que acaricia,

alma desarmada.

 

A maior é tempestade de alegria. Sapeca, inteira, cheia de vida escapando pelos poros. Quando me viu careca, não estranhou. Não buscou respostas, não fugiu do novo. Transformou o inesperado em brincadeira. Fez caretas, olhos e bocas se transformando em personagens, e deu risada.

 

Careca de luz,

mãos que tocam espinhos,

amor que floresce.

 

O que o espelho estranhava, ela acolheu com graça. O “feio” não existiu. Para ela, minha cabeça lisa virou brinquedo: mãos pequenas percorrendo os fios que insistem em espetar, descobrindo texturas com a curiosidade de quem ama sem filtros.

 

Entre risos soltos,

inocência que se aninha,

abraço eterno.

 

 

Não houve silêncio desconfortável. Houve riso. E mãos que tocam com liberdade. Houve aceitação pura — a mais poderosa forma de amor.

 

E nesse instante, entre as mãos pequenas e a leveza do instante, algo em mim se cura. Não por mágica. Mas por verdade.

 

Eu, que antes tive medo de que me vissem assim, nua daquilo que sempre cobri, me vejo ali, inteira, no reflexo do riso dela. Não sou doença. Não sou ausência. Sou a avó com quem se brinca. Sou carinho que não precisa de disfarce.

 

O que elas me dão sem saber, é mais que companhia, sou amor sem perucas. Sem véus. Sem fingimento. Só amor.


 

Renga final

 

Cabeça lisa,

toque que cura e inventa,

amor brincante.

 

Entre pequenos

dedos que desenham o

mundo sem medo.

 

No riso aberto,

sem máscaras nem véus,

sou inteira, sou.

 sem perucas


As Imagens são do meu acervo particular 

🌿Floresta de Bambu (Arashiyama, Japão)

 

Sônia Lupion Ortega Wada

Flor de Cerejeira 🌸

 

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 14/06/2025
Alterado em 14/06/2025
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