Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Isabel, minha égua de asfalto

 

 

Epígrafe – mini poema

para “Isabel, minha égua de asfalto”

 

Minha Isabel é azul,

como o céu que ela persegue.

No asfalto, a estrada é prece.

No volante, a alma adormece

e acorda inteira no céu.

A cerejeira me conta

que viver é mudar de flor

sem esquecer a raiz.

 

 

 

Enquanto dirijo meu carro — que se chama Isabel, e que, para mim, não é só um carro — sinto que estou com uma bela égua.

Uma égua com todas as forças.

É com ela que divido parte da minha vida.

 

Todos os dias, no mesmo horário, percorremos juntas as mesmas trilhas.

E é nesse fim de tarde que minha alma repousa sobre si.

 

O arrozal maravilhoso, o arrozal japonês.

Ao fundo, as montanhas.

E aquele poente se despedindo…

Nunca um dia é igual ao outro.

Eu e Isabel olhamos juntas para isso.

Paramos. Fotografamos. Filosofamos.

 

E pensamos: até onde vai tanta beleza nesse mundo?

 

No rádio, Ayaka Hirahara canta.

E eu penso nas dádivas que Deus nos oferta todos os dias.

Uma pequena flor brotando no meio do asfalto.

Esse sol — hoje com nuances vermelhas, douradas, prateadas.

Um céu meio nublado.

 

Do outro lado do mundo, o mesmo sol que aqui se esconde atrás das montanhas ressurge sobre elas.

E se coloca inteiro.

Renasce.

Como se dissesse que o tempo não existe.

 

E eu acredito que não existe mesmo.

 

Porque enquanto termino minha segunda-feira no Japão,

o Brasil está apenas começando a sua.

Estou no futuro —

mas o que é o futuro senão um agora que chega antes?

A eternidade cabe nesse instante que partilhamos,

mesmo separados por oceanos.

 

E isso… isso é parte de Deus.

 

Vejo as pessoas. Olho para elas.

Como são lindas as pessoas.

 

Cada uma com sua individualidade, suas marcas, seus conflitos.

Umas tão complicadas. Outras tão leves.

Umas, faróis. Outras, escuridão.

 

E a vida…

A vida pulsando neste planeta tão cheio de antagonismos.

Tão cheio de injustiças.

Tão cheio de dor e de mágoas.

 

Mas também um planeta repleto de amor.

Vida pulsando na terra, no ar, nos rios e mares.

Uma força que não se apaga.

 

E a beleza fica.

Persiste.

Insiste.

 

E a beleza é assim: se transforma, renasce, ressurge.

 

O ser humano também é assim.

Não é imutável — mas é feito dessa força de reinvenção.

 

E eu e Isabel, minha cavala, minha parceira de sonhos,

de viagens para lugares onde desejo estar —

ela me leva.

 

E nesse mesmo caminho diário, eu vi a cerejeira seca.

Depois, vi seus galhos em flor.

Caminhei por um tapete de pétalas.

E agora, no início do verão,

ela está coberta de folhas,

sendo sombra, brisa e ninho de passarinhos.

 

E a vida…

E a vida…

E a vida segue.

 

Porque há seres humanos tão complicados.

E eu sou só uma garota,

sentindo,

querendo abraçar a vida,

querendo abraçar todos.


By Sônia — Flor de Cerejeira 🌸 

 

 

Fotografia: acervo pessoal da autora

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 16/06/2025
Alterado em 16/06/2025
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