Banquinho Deluxe — Crônica para Sentar com Alma Leve
Por Sônia Lupion Ortega Wada
(Uma crônica-poema real, escrita do fundo da alma — e de outros fundos também. Para quem já sentou no limite e mesmo assim floresceu.)
Neste banheiro sagrado,
não se entra com pressa.
Aqui se senta com história,
com dignidade e com firmeza.
Porque houve um dia, e não foi sonho,
em que produzi pedra.
Seis dias de silêncio no ventre,
e a alma… esperando por um sinal.
Veio com suor,
pressão no chão,
e o amor abanando ao lado.
Luvas na mão, coragem no olhar.
“Na saúde e na doença”,
dizia ele — e eu dizia “empurra!”
Não foi parto,
mas pariu poesia.
E doeu.
Do fiofó nasceu flor:
uma cerejeira inchada, vermelha,
gritando primavera na dor.
Banquinho de assento preparado,
meu altar de madeira.
Ali sentei depois da guerra,
com o espírito mais limpo que nunca.
Porque viver, às vezes,
é desentalar o que o corpo não deu conta.
É fazer do grotesco um milagre,
do banheiro um santuário,
e do amor… um ventilador humano.
Se alguém me perguntar
onde floresce a verdadeira coragem,
vou apontar sem vergonha:
no reto da mulher que luta.
Ali, meu bem, nasceu poesia —
com cheiro de vida e papel higiênico do lado.
Foi um verdadeiro déjà-vu espiritual.
É como se Buda tropeçasse numa casca de banana
e dissesse, rindo:
“isso também é iluminação.”
by Sônia-Flor de Cerejeira 🌸
✧ Nota da autora ✧
Essa crônica nasceu num momento-limite, quando o corpo gritou e a alma teve que rir para não desabar. Não é apenas sobre constipação, hemorroida ou quimioterapia — é sobre amor conjugal, sobre coragem visceral, sobre encontrar beleza até na excreção.
A espiritualidade que cultivo me ensinou a honrar todos os aspectos da existência — inclusive os mais incômodos.
E se há algo sagrado nisso tudo, é o riso que resgata a dignidade em meio ao caos.
No Recanto das Letras, essa crônica-poema pode:
• Abrir espaço para conversas sobre os efeitos reais da quimioterapia no corpo (sem tabu);
• Mostrar o poder do amor conjugal nos momentos mais difíceis;
• E, acima de tudo, dar à literatura o que ela mais precisa: verdade com alma e irreverência com poesia.
Com alma leve,
Sônia Lupion Ortega Wada
Flor de Cerejeira 🌸