Recado às que escrevem poesia — e aos que confundem arte com cantada
por Sônia Lupion Ortega Wada
Meus caros entusiastas da poesia e outros viajantes das galáxias da paquera:
aqui quem vos fala não é estrela solitária nem satélite errante à procura de sinal de carência.
Sou constelação própria, com luz que não depende do seu telescópio.
Se você chegou até meus versos achando que rimar é prenúncio de romance,
que todo poema é convite à alcova,
ou que mulher que escreve com paixão está à procura de calor humano,
deixa eu te dizer, com alegria e um leve coice elegante:
não confunda arte com carência — nem poeta com plateia para sua carência.
No Recanto das Letras posto meus poemas, porque sou poetisa, sou mulher, sou autora.
Tenho família, história, dignidade — e isso não está à venda.
Não escrevo para agradar, nem para flertar.
Não sou palco nem plateia: sou universo.
Recebi convite disfarçado de “conexão espiritual”, número de telefone, e até proposta de “sexo pleidiano”.
Se isso fosse cósmico, mandava uma nave buscar — mas desconfio que o ET só queria pousar aqui com desculpa de ser luz.
Já avisei uma vez, com firmeza. Voltou com outro nome, achando que mulher é burra ou que o universo é cego.
Não sou oráculo de ninguém, e se fosse, diria: mude a rota, comandante. Aqui é espaço sagrado.
Esse recado não é para ofender — é para lembrar:
nenhuma poetisa é plateia, nem beleza é senha de acesso, nem gentileza é convite.
Nem todo espaço literário é vitrine para rede de flerte.
Aos respeitosos e verdadeiros, sempre bem-vindos.
Àqueles que confundem liberdade com vulgaridade, inspiração com insinuação, poesia com paquera de feira —
meu poema termina aqui, com sorriso nos lábios e um coice de mulher-cavala no coração do mal-entendido.
Estou aqui para escrever. Para existir.
E se meu verso te encantou — respeite-o.
Respeite-me.
Porque, mesmo sendo bonita, não sou plateia.
E o Recanto não é vitrine.
— Sônia Lupion Ortega Wada