Caderno de Fins de Tarde
✨
Bem-te-vi pousa
no silêncio do entardecer —
não canta, encanta.
✨
Beija-flor
não fica
mas toca tudo
✨
Chuva fina
no telhado de barro —
voz de lembrança
✨
Borboleta
pousa no medo
e vira leveza
✨
Vento no bambu
não grita
conversa
✨
Gato no muro
nem mia
vigia os segredos da noite
✨
Fim de tarde —
uma andorinha desenha
o que não sei dizer
✨
Na calçada antiga
o riso da infância
ainda corre descalço
✨
O sabiá
canta no muro
que eu nunca mais escalei
✨
Fim de tarde
e eu brinco de novo —
mas só por dentro
✨
A pomba voa
com o cheiro do arroz
que minha avó fazia
✨
Menino-pássaro
com estilingue na mão
e culpa no coração
✨
Na última luz
um bem-te-vi me chama
pelo nome de antes