Como se Fosse Comigo
Era noite no Japão, mas aquela cena me levou para outro lugar — ou talvez outro tempo.
Vi o vídeo como quem entra devagar num quarto onde não se deve acender a luz.
Um pai e uma filha dançando.
Sem música. Sem pressa.
Aquelas coisas que a alma reconhece antes da razão.
Era como se o amor tivesse aprendido a andar descalço, e os dois seguissem os passos dele.
Ela o conduzia com delicadeza, como quem segura o braço do tempo e diz:
“Fica mais um pouco.”
E ele… ah, ele dançava como quem dizia “obrigado” com o corpo todo.
Me emocionei.
Porque era dança, mas também era abraço.
Era silêncio, mas também era reza.
E naquele instante me lembrei de mim.
Dos meus afetos. Dos que já foram. Dos que ainda dançam comigo, mesmo de longe.
Fechei os olhos por um segundo.
E juro — senti o cheiro de café velho vindo da sala, e a palma quente de um amor antigo nas costas da minha mão.
É isso.
Algumas danças não pedem trilha sonora.
Pedem apenas que a gente esteja viva,
e inteira
Na Sala em Meia-Luz
Dançam na sala,
sem som nem sapato —
só chão, memória e cuidado.
Ela segura o mundo
com as mãos no ombro do pai.
Ele segura o tempo
como quem segura
um passarinho dormindo.
A casa não diz nada,
mas sabe tudo.
É despedida ou recomeço?
Não importa.
O amor
é o único passo
que nunca se esquece.
Sônia- Flor de Cerejeira 🌸