A Tanaka Mitoshi San, com reverência
Querido Mitoshi
Hoje escrevo com mãos cuidadosas,
como quem segura um origami antigo
sem saber se é pássaro ou lembrança.
Quero lhe agradecer.
Por ter estado ao lado do meu filho com tanto zelo.
Por ter sido mais do que um amigo:
um mentor silencioso, um conselheiro firme,
um homem de presença discreta e alma grandiosa. Quase um
Pai.
Sei que sua vida foi tecida por fios de dor e reconciliação.
Sei da sua história com Maiho Chan—
casamento, promessas, a filha caçula nascida do amor entre vocês.
E também sei da solidão que veio depois,
quando foi deixado por quem um dia lhe jurou companhia.
Mas, ainda assim, o senhor permaneceu nobre.
Foi o Daiyamonjin — o grande protetor —
para as meninas que, mesmo sendo filhas do abandono, encontraram no senhor a figura mais próxima do amor paterno.
Rena-chan, a primeira namorada do meu filho,
e sua irmã Aya, que ainda muito pequenas
viram a mãe partir e o mundo desabar.
O senhor as acolheu,
com delicadeza e firmeza,
ensinando mais com gestos do que com palavras.
Meu filho, Lucas, teve o privilégio de conhecer o senhor.
De ouvir suas histórias,
de aprender com sua calma,
de experimentar ao seu lado
a primeira lasanha brasileira da vida —
feita por mim, enquanto o Senhor anotava os ingredientes
com vinho, risadas, sobremesa… e alma em festa.
Foi um dia simples. Mas, como tudo o que é verdadeiro,
ficou gravado em nossos corações.
Ali estávamos: uma mesa, três culturas,
e um senhor japonês que parecia saído de outro tempo —
e que nos presenteou com sua presença.
Pouco tempo depois, o senhor partiu.
Mas não partiu de nós.
Lucas, agora homem feito,
não casou com Rena — a vida levou cada um ao seu caminho.
Mas todos os anos, ele vai de coração à Shiga-ken.
Visita o seu túmulo.
Oferta seus doces favoritos.
E oferece, mais do que oferendas:
a gratidão de quem reconhece o valor de um verdadeiro amigo.
O senhor é lembrado em nossa casa como se fosse parente de sangue.
Porque há laços que não precisam de sobrenome.
São costurados pela vida, pelo amor, pelo respeito.
Tanaka-san, o senhor atravessou este mundo como os grandes atravessam:
com discrição, mas deixando luz onde tocou.
Com firmeza, mas também com ternura.
Com cicatrizes, sim — mas nunca amargura.
Seu nome vive.
E seu legado — invisível, mas real —
segue pulsando nos que tiveram a sorte de tê-lo por perto.
Com reverência, amor e eterna gratidão,
和田ソニア
田中さん、どうもありがとうございました。心の友への敬意を込めて。
Leitura (romaji):
Tanaka-san, Dōmo arigatō gozaimashita.
Kokoro no tomo e no keii o komete.
Tradução:
Tanaka-san, muito obrigado.
Com reverência ao amigo do coração.