Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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A Tanaka Mitoshi San,  com reverência

 

 

Querido Mitoshi

 

Hoje escrevo com mãos cuidadosas,

como quem segura um origami antigo

sem saber se é pássaro ou lembrança.

 

Quero lhe agradecer.

 

Por ter estado ao lado do meu filho com tanto zelo.

Por ter sido mais do que um amigo:

um mentor silencioso, um conselheiro firme,

um homem de presença discreta e alma grandiosa. Quase um

Pai.

 

Sei que sua vida foi tecida por fios de dor e reconciliação.

Sei da sua história com Maiho Chan—

casamento, promessas, a filha caçula nascida do amor entre vocês.

E também sei da solidão que veio depois,

quando foi deixado por quem um dia lhe jurou companhia.

 

Mas, ainda assim, o senhor permaneceu nobre.

Foi o Daiyamonjin — o grande protetor —

para as meninas que, mesmo sendo filhas do abandono, encontraram no senhor a figura mais próxima do amor paterno.

 

Rena-chan, a primeira namorada do meu filho,

e sua irmã Aya, que ainda muito pequenas

viram a mãe partir e o mundo desabar.

O senhor as acolheu,

com delicadeza e firmeza,

ensinando mais com gestos do que com palavras.

 

Meu filho, Lucas, teve o privilégio de conhecer o senhor.

De ouvir suas histórias,

de aprender com sua calma,

de experimentar ao seu lado 

a primeira lasanha brasileira da vida — 

feita por mim, enquanto o Senhor anotava os ingredientes 

com vinho, risadas, sobremesa… e alma em festa.

 

Foi um dia simples. Mas, como tudo o que é verdadeiro,

ficou gravado em nossos corações.

Ali estávamos: uma mesa, três culturas,

e um senhor japonês que parecia saído de outro tempo —

e que nos presenteou com sua presença.

 

Pouco tempo depois, o senhor partiu.

Mas não partiu de nós.

 

Lucas, agora homem feito,

não casou com Rena — a vida levou cada um ao seu caminho.

Mas todos os anos, ele vai de coração à Shiga-ken.

Visita o seu túmulo.

Oferta  seus doces favoritos.

E oferece, mais do que oferendas:

a gratidão de quem reconhece o valor de um verdadeiro amigo.

 

O senhor é lembrado em nossa casa como se fosse parente de sangue.

Porque há laços que não precisam de sobrenome.

São costurados pela vida, pelo amor, pelo respeito.

 

Tanaka-san, o senhor atravessou este mundo como os grandes atravessam:

com discrição, mas deixando luz onde tocou.

Com firmeza, mas também com ternura.

Com cicatrizes, sim — mas nunca amargura.

 

Seu nome vive.

E seu legado — invisível, mas real —

segue pulsando nos que tiveram a sorte de tê-lo por perto.

 

Com reverência, amor e eterna gratidão,

 

和田ソニア

 

 

 

田中さん、どうもありがとうございました。心の友への敬意を込めて。

 

Leitura (romaji):

Tanaka-san, Dōmo arigatō gozaimashita.

Kokoro no tomo e no keii o komete.

 

Tradução:

Tanaka-san, muito obrigado.

Com reverência ao amigo do coração.

 

 

 

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 22/06/2025
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