Chique Chiquinha
(Ou a Soberana da Tesoura e da Travessura)
Entre as Chicas célebres — a da Silva Xavier, a Buarque de Holanda, a de Iansã, a do Mercado, a do Bordado, a Chica da Vó Tita e até a Chica da Roda — nenhuma causou mais alvoroço, nem nos salões nem nos corações, que Chiquinha do Carmo, nossa musa das tranças e dos desmandos.
Foi emoldurando madeixas e desatando enroscos da vida que ela fez seu nome. Com um pente e um sorriso, corrigia tragédias conjugais, resgatava autoestimas naufragadas e, por vezes, costurava esperanças perdidas. Não sem antes lançar um olhar de raio-X e uma pergunta certeira:
— Quer mudar de vida… ou só de corte?
Antes de rodar o mundo, rodou cabeças. E não foram poucas. Deu aula de estilo ao próprio destino, mas recusou fama que tirasse dela o gosto do café passado na hora ou do bate-papo com dona Ernestina, do açougue.
Diz-se que recusou Paris por amor a uma samambaia e que foi cortejada por um sultão de nome impronunciável, a quem disse com ternura e firmeza:
— Aqui quem reina sou eu, mon chéri.
Hoje, devolvida ao solo natal da Velha Serrana, ensina meninas e meninos a arte de pentear almas, com mãos de fada e pés descalços. Não cobra por hora, mas por histórias trocadas. E toda terça-feira ainda passa batom vermelho antes de sair, não por vaidade — mas por resistência.
E quando lhe perguntam se sente falta dos flashes e das festas, ela responde com um suspiro risonho:
— Quem precisa de tapete vermelho quando se pisa no chão com dignidade?
Chiquinha. Chique. Sem precisar de sobrenome.
Sônia-Flor de Cerejeira 🌸