Chique Chiquinha — A Soberana das Tesouras e dos Segredos
Chiquinha do Carmo, nascida num 23 de agosto com sol em Leão e língua afiada, já chegou ao mundo com um laço vermelho nos cabelos e uma sentença no olhar:
— Aqui quem penteia é a vida. Mas quem finaliza sou eu.
Cabeleireira desde antes de saber escrever seu nome direito, já aos doze anos aparava as pontas das vizinhas com navalha de cortar sabugo e lavanda colhida no quintal. Fazia cachos, sim, mas também fazia milagres: arrancava tristezas, alisava traumas, tingia o tempo.
O Amor Secreto de Chiquinha
Dizem por aí — e quem nega não convence — que Chiquinha viveu um grande amor. Chamava-se Amadeu, poeta ambulante, desses que vendem palavras como quem vende algodão-doce: colhidas do céu, mas que derretem ao menor sopro.
Ele apareceu numa tarde chuvosa e pediu para cortar “as pontas do passado”. Ela riu. Ele se apaixonou. Trocaram cartas, livros e promessas de cabelos ao vento em Paris.
Mas Amadeu partiu com a primavera e deixou apenas um bilhete perfumado com patchouli e um verso:
“Se um dia eu voltar, será para que me desenhe de novo com tua tesoura.”
Ela nunca mais o viu. Mas toda terça-feira, antes de abrir o salão, põe batom vermelho e perfuma os pulsos.
“Vai que ele volta,” diz. “Ou que alguém mereça o lugar dele.”
E a história segue nos próximos capítulos.
Sônia - flor de cerejeira 🌸