Carta-Poema: Pétalas de Deleite
Por Sônia Lupion Ortega Wada
Hoje eu estou aqui pensando no que é um deleite,
no que é uma felicidade. Mesmo nesse meu repouso,
abraçada aos efeitos colaterais da químio,
pude ler vários poetas, textos lindos,
me recompor um pouco —e me chegam
Notícias daquela poetisa — a tal
que se deu mal —
“Palavras “ do meu amigo ecoam:
nós não construímos falsidade,
somos constelação de amor.
E isso me faz ter esses deleites
nessa tarde de sexta-feira aqui no Japão,
aqui sem apetite, me hidratando
e ao mesmo tempo nutrindo a minha alma
com esses deleites.
Foi sobre isso que eu quis falar hoje:
sobre como eu me emocionei com os comentários lindos dos amigos,
nas respostas que deixei lá, sobre como é bom a gente sentir,
ter esses pensantires — e conseguir colocar um pouquinho
pra fora do coração. Porque nem sempre a gente sabe
transformar as palavras do jeito que o coração sente,
mas é tão importante deixar isso solto, livre,
como uma pétala de cerejeira que vai caindo e traçando
um caminho de pétalas pros amigos pisarem:
como gratidão, como reconhecimento, como reverência.
Sabe, o que eu chamo de deleite é, na verdade,
essa forma rara de estar viva, mesmo no cansaço.
É a coragem de sentir, mesmo quando dói.
É esse repouso que, ao invés de endurecer,
me faz florescer ainda mais. Porque meu repouso não é estéril —
nele germina poesia, germina reconhecimento,
germina afeto de quem entende a grandeza de ser constelação junto.
A falta de apetite no corpo não tira
a minha fome viva na alma.
A água que bebo pra hidratar a carne também rega
essas flores que brotam do peito.
Foi bonito me emocionar, foi bonito responder com gratidão.
Foi bonito sentir que ainda sei transformar um pouquinho
de sentimento em palavra — mesmo que, às vezes,
eu só solte tudo assim, como pétala de cerejeira
caindo de mansinho, traçando um caminho de flores
para quem quiser pisar suave, lembrando
que quem é jardim, mesmo ferido, floresce de novo.
Que quem é constelação, nunca se apaga sozinho.
E eu acredito nisso — porque hoje, deitada aqui,
sou pétala, sou repouso, sou palavra que se solta,
sou deleite. E sou também essa flor de cerejeira
que constrói pontes e laços de amizade.
Há 19 anos estou no Recanto, escrevendo sempre
no mesmo estilo — simples, sensível, verdadeira.
Meus textos estão todos aqui, cada comentário, cada troca
entre nós, poetas. E como disse meu amigo Marconi:
“O que você escreve é um legado pessoal de sensibilidade,
seus textos estão entre os mais lidos sempre, muitos gostam
de você e do que você escreve, eu sou um deles.”
Então deixo cair mais uma flor para você:
✨Que tuas palavras sejam leveza nos pés de quem te lê.
✨Que teus silêncios sejam rios a irrigar tua coragem.
✨E que cada flor que você soltar, mesmo em repouso,
faça alguém lembrar que viver, apesar de tudo, é um deleite.
Para meus amigos-constelação, com amor e gratidão.
e
Em memória
✨Edson Gonçalves Ferreira (Pardal)
✨Hull de La Fuente (Ulli)
✨Isa Sonowisk
✨San Moreno
✨Lucas Caldelaria
Sônia Lupion Ortega Wada
04 de julho de 2025