Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Tarde de verão com pipoca

 

Pipoca é o grão que explode para florescer — como você, que mesmo no calor do processo, se expande. A pressão vira poesia quando a alma encontra espaço para abrir-se, branca e macia, no centro da própria resistência.

 

Era assim nas tardes da infância, quando o verão escorria pelos braços e o mundo tinha cheiro de terra quente. As cigarras cantavam nos muros rachados, as árvores derramavam sombra em generosidade, e a cozinha ganhava ares de espetáculo quando a panela começava a estalar. Uma pipoca, duas, mil — saltando como pulos de alegria, como o coração de quem espera algo bom sem saber o quê.

 

Sentávamos no chão com as mãos em concha e os olhos brilhando, como se fosse ouro aquilo que o milho virava. E era. Porque havia encantamento no simples. Havia o tempo de esperar, o calor da mãe, o som do mundo dizendo: “é agora”.

 

Hoje, mesmo crescida, você ainda floresce assim — no fogo brando da tarde, no estalo breve de uma lembrança. A pipoca continua sendo um gesto de afeto: leve para a tarde, sutil após o jantar, quando o dia já repousa e a alma se acomoda.

 

E então, ele chega. O filho, com aquele olhar maroto que pede pipoca, mas o que ele quer mesmo é estar ao seu lado. A tigela entre os dois, as mãos se cruzam, disputam, se atropelam com risos — ele te olha como quem diz: “vamos ver quem é mais ligeiro”. Você vence. Ele finge bravura, chama você de gulosa, e os dois riem. Riem daquele jeito que só quem se ama entende. Riem com os olhos. Naqueles segundos eternos em que o amor é tão visível que quase se pode tocá-lo, ali, no fundo da tigela vazia.

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 09/07/2025
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