chuva no vidro —
guardei tua voz inteira
numa gota só
Frasco de Chuva
Guardei tuas palavras
como quem guarda
o som da chuva
num frasco de vidro.
Selado com silêncio,
recolhi cada sílaba
como quem colhe gotas
no beiral da alma.
E agora, às vezes,
quando a saudade respinga,
abro devagar o vidro —
e escuto:
uma lembrança,
um eco,
um amor que ainda pinga.
By Sônia
1. Haicai (estilo clássico, natureza e sensação)
som da chuva
num vidro em repouso —
a noite escuta
2. Senryū (emoção humana, traço de saudade)
guardei tua voz
no frasco da despedida —
e não quis abrir
3. Tanka (forma tradicional japonesa
de 5-7-5-7-7)
chuva no telhado
teu nome cai gota a gota
e eu, sem saber
se abro o frasco do tempo
ou deixo tudo pingar
4. Haicai – memória líquida
frasco na estante
um resto de chuva antiga —
teu riso ainda soa
5. Senryū – saudade guardada
nem toda garrafa
aguenta o peso do som
de um adeus molhado
6. Haicai – contemplativo
num vidro esquecido
o som da tarde chuvosa —
a infância respira
7. Tanka – silêncio e desejo
fechei bem o vidro
com tua voz lá dentro
só por precaução
se um dia eu esquecer
como era te amar
8. Senryū – toque de humor sutil
chuva engarrafada —
disseram que evapora
mas tua voz não
Nota da Autora
Sempre achei que palavras têm peso de água. Quando alguém nos diz algo que toca fundo, essa fala não evapora: condensa-se. Junta-se às outras, escorre pelas frestas da memória e, se tivermos cuidado, conseguimos recolher algumas gotas.
Estes poemas nasceram de um gesto simples: imaginar que vozes amadas podem ser guardadas como chuva em vidro claro. Cada haicai, senryū ou tanka é um frasquinho de lembrança sonora — aberto só quando a saudade respinga.
Se ao ler você ouvir alguém querido pingando dentro do peito, já valeu.
— Sônia Lupion Ortega Wada
Nem toda chuva seca. Algumas vozes ficam suspensas no vidro da memória.
— Sônia