Primeiro Amor
Estou aqui, ouvindo estrelas, numa tentativa de realçar
minhas lembranças. Uma estrelinha suavemente canta,
e a canção tira você daquele cantinho da alma
onde o guardei há décadas.
É como se você adormecesse dentro de mim
e agora sua presença invadisse minhas entranhas.
Lembro bem do seu rosto menino,
orvalhando brisa verde na manhã de sábado,
quando pedalava sua bicicleta,
levando eu — menina desabrochando em flormulher — na garupa.
O vento traz seu cheiro…
O primeiro cheiro de homem chegou suavemente
com sua boca ao meu ouvido, convidando-me para dançar.
Seu corpo colou-se ao meu, nossas coxas encaixadas,
dançamos tão juntos que nos vestimos um do outro.
O mundo ficou deserto. Caminhamos pelo céu…
Foi assim que você me ensinou a ver e ouvir as estrelas.
O primeiro beijo,
aquele desajeitado enroscar de línguas,
um fogo queimando o corpo:
eu descobrindo o significado do desejo.
Na orla da pele, brotavam arrepios com seus beijos suaves pelo meu colo.
Eu não sabia que ficaria assim quando chegasse a hora de abrir os olhos.
Não pensava que vertigem fosse ventania
colorida pelas cores do outono,
nem que a face se alterasse com o susto e a alegria.
As palavras foram roubadas,
estancando no ar o gesto.
“Gosto desse silêncio”, disse ele.
Seu olhar era profundo e brilhante.
Uma nuvem de amor nos envolveu.
Estou aqui, na beira da minha rendição,
onde o coração conversa com as estrelas que você me ensinou a ouvir,
e me pergunto em silêncio:
por que não vivi aquele amor?
by Sônia
crônica reeditada
original : 27/06/2007