Sônia Lupion Ortega Wada
“Coragem é agir com o coração.”
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Vertigem e Semente

 

 

Há momentos em que não basta apenas perguntar — é preciso ouvir. Ouvir o tempo. Ouvir a alma. Ouvir o silêncio entre as palavras e aquilo que pulsa além da matéria.

 

Este texto nasceu da escuta. Da travessia pessoal por entre o visível e o invisível. De um chamado interior que me fez repensar não só o que somos, mas de onde viemos, para onde vamos — e o que permanece em nós quando tudo o mais se desfaz.

 

O que segue não é uma doutrina. É um sopro. Um ensaio sobre o mistério. Um manifesto de quem já sentiu a morte soprar no cangote, mas também a vida cantar no fio da alma. É a tentativa de nomear, com palavras humanas, uma experiência que é mais vastidão do que conceito.

 

 

 

Somos Vertigem e Semente

 

 

A humanidade me parece, às vezes, uma vertigem coletiva: um redemoinho de consciência e memória que gira desde os primórdios e que ainda não cessou de girar. Como se todos nós, vivos e mortos, nascidos e por nascer, estivéssemos enredados num mesmo novelo de tempo. Tempo não como linha reta, mas como espiral viva, onde o passado ecoa no presente, e o futuro pressente a sua origem.

 

Não acredito, porém, num começo literal com Adão e Eva. A metáfora é bela, sim. Toca camadas profundas do nosso imaginário, talvez porque deseje ordenar o caos. Mas não me alcança como verdade. A gênese, para mim, não está num casal, mas num ponto. Um ponto de consciência. Uma faísca original. Um sopro silencioso que, ao se dividir, não perdeu sua essência — apenas se multiplicou em formas.

 

Antes de sermos carne, fomos espírito. Antes de sermos espírito, talvez tenhamos sido intenção. Uma intenção tão plena, tão sutil, que nem se chamava desejo — era simplesmente potência. Uma vontade silenciosa de existir. E foi assim, por esse impulso misterioso, que a vida passou a pulsar.

 

E pulsa ainda. Pulsa nos mares incontáveis, nas estrelas que os olhos não sabem contar. Pulsa nos insetos que dançam entre os veios das folhas, nos fungos que se escondem no húmus escuro do chão. Pulsa nos mundos invisíveis. Pulsa em tudo o que Deus — ou o Mistério, ou a Fonte, ou a Consciência Original — continua criando. Porque não terminou. Deus não é obra acabada. É movimento. É expansão. É o ato contínuo de se tornar.

E ama tanto a humanidade que vibra em cada uma das 8.142 bilhões que Ele habita — não como hóspede, mas como centelha. Como presença viva.

Criar não é um gesto isolado, mas uma respiração eterna. Uma exalação do invisível sobre o visível.

 

A abundância do mundo não é desperdício. É assinatura. Deus cria em excesso porque não sabe ser menos. Porque a abundância não é acúmulo — é vibração. É o traço do sagrado em tudo que respira. Somos parte dessa vibração. Somos, talvez, sua mais angustiada e bela expressão. Porque em nós, a consciência se pergunta. Se inquieta. Se busca.

 

A morte, nesse fluxo, não é castigo. É retorno. É passagem. Se não morrêssemos, a Terra não nos conteria. Seríamos um amontoado estagnado de matéria acumulada. Mas a matéria é apenas estação. A alma precisa ir. Precisa retornar ao invisível, onde tudo é essência. Onde não há sobrenome, nem status, nem carne — só consciência. A morte não apaga. Transforma. Ela é a grande porta de reentrada. Ou, quem sabe, o bilhete de embarque para outro campo de experiências.

 

E o que vem depois? Não sei. Mas sinto. E o que sinto é vasto, múltiplo, dinâmico. O mundo espiritual, para mim, não é um céu de nuvens paradas — é um rio. Um oceano de formas e dimensões que a física ainda nem sonhou tocar. Aquilo que nos move — o desejo, o amor, a memória — talvez pertença a camadas mais antigas e mais futuras que o tempo.

 

Deus, para mim, não é um rei sentado num trono fixo. É uma Consciência em movimento. Um Olho que se descobre ao se ver refletido nas galáxias, nas moléculas, nas crianças, nas árvores que morrem de pé. Um Ser que cria para conhecer a si mesmo. E nós, seus fragmentos, talvez estejamos aqui para isso: para experimentar com Ele. Para sentir por Ele. Para sermos parte da própria jornada divina de autodescoberta.

 

 

 

 

Última vibração

 

 

Quanto ao fim… dizem os cientistas que o Sol já viveu seis bilhões de anos, e que pode arder por mais quatro. Não sei se haverá um fim da matéria. Mas sei que tudo o que pulsa encontra outro modo de existir. Talvez um dia deixemos de ser humanos. Mas nunca deixaremos de ser consciência. Porque a consciência é anterior ao corpo. E sobrevive a ele como a música sobrevive ao instrumento.

 

Talvez sejamos apenas uma semente.

Mas somos uma semente que carrega o infinito.

E isso… basta para nos tornar sagrados.

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 07/08/2025
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