Do quintal onde o tempo repousa
Querido Amigo(a)
Hoje escrevo de um lugar que talvez você não conheça — mas que, tenho certeza, já sonhou em visitar.
É um quintal simples, de chão de pedra e vento doce. Aqui, o sol se põe devagar, como quem pede licença. As flores balançam os galhos em prece, e uma velha figueira sustenta o céu com seus braços floridos.
A senhora da casa, de cabelos já prateados pelo tempo, cozinha no fogão de lenha com a sabedoria de quem já soprou feridas e esperanças. Cada mexida no tacho carrega um pouco de silêncio e muito amor. A fumaça sobe em espirais suaves — e eu juro, parece que ela está contando segredos antigos ao vento.
Ao lado, uma menina lê.
Ou melhor, ela escuta o mundo pelo livro.
Seus pés tocam o chão, mas a alma passeia entre campos de histórias e castelos invisíveis.
Um cãozinho dorme ao seu lado, feito guardião dos instantes bons.
Na mesa, pratos simples: verdes do jardim, cores do afeto, um bule de chá ainda morno.
É como se a refeição fosse um poema servido em cerâmica.
E sabe o que mais me tocou?
Aqui, ninguém tem pressa.
A vida não corre, caminha.
O tempo não grita, sussurra.
Pensei em você.
No quanto, às vezes, tudo parece tão rápido, tão ruidoso.
E desejei que você também pudesse ter um quintal desses dentro de si.
Um lugar onde a paz tenha cheiro de lenha e o silêncio tenha gosto de pão quente.
Se um dia precisar, venha.
Não precisa bater à porta.
Basta fechar os olhos e lembrar:
a vida também mora nas coisas simples.
Com ternura e flor de campo,
Sônia 🌸