Sentimentos sentidos e quase nunca falados
Precisou uma vida toda para ouvir da sua boca Eu te amo, era um eu te amo dolorido, ficara muito tempo escondido dentro do esquecimento. Anos após anos atravessamos os dias, atropelamos as falas, escondidas as palavras nos programas da TV. A família procurando entre risos e urgências as razões da solidão, sempre sentida e nunca falada. Tempo caminhando depressa, uma chuva pesada, e nós aqui, sem saber os gosto de uma enxurrada, eu que pensava que sentir era tudo, quando na orla da minha pele sua boca tocava. E molhava minha boca um gosto de chuva, eram molhados seus beijos, e não me foi dito, eu te amo, eu não devia ter pretensões de enxurradas; a vida tão morna, monólogo familiar, a umidade nas peredes escorrendo sentimentos, um risco de luz no céu, a escuridão, uma televisão muda, afastando as sombras, encharcando a família. Podia-se ouvir eu te amo pingando no tapete da sala.
Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 31/03/2008
Alterado em 31/03/2008